No universo do design de interiores contemporâneo, o conceito de open space representa muito mais do que uma simples tendência arquitetónica. Trata-se de uma filosofia espacial que exige domínio técnico, sensibilidade estética e uma compreensão profunda sobre como as pessoas habitam os seus espaços. Ao longo de três décadas a desenvolver projectos para clientes exigentes no Porto e norte de Portugal, aprendi que o verdadeiro desafio num open space não reside em derrubar paredes, mas em criar limites invisíveis que funcionem.

O Desafio Silencioso dos Espaços Amplos

Quando nos deparamos com um open space, a tentação inicial é celebrar a amplitude conquistada. Contudo, rapidamente percebemos que a ausência de divisórias físicas não resolve, por si só, a questão da funcionalidade. Pelo contrário: cria um novo desafio. Como separar a zona de refeições da sala de estar? Como garantir que a cozinha não invade visualmente o momento de relaxamento no sofá? É aqui que o design de interiores revela o seu verdadeiro valor profissional.

A resposta nunca está em erguer novas barreiras — isso seria contradizer a própria essência do conceito. A solução encontra-se numa orquestração cuidadosa de elementos que, trabalhando em conjunto, definem territórios sem os aprisionar. É uma coreografia espacial onde cada peça desempenha um papel específico na composição final.

Mobiliário Como Arquitectura Invisível

Open Space-A Arte de Criar Harmonia Sem Fronteiras no Design de Interiores
Open Space-A Arte de Criar Harmonia Sem Fronteiras no Design de Interiores

No design de interiores aplicado a espaços abertos, o mobiliário deixa de ser mero complemento decorativo para assumir um papel estruturante. Um sofá estrategicamente posicionado não serve apenas para sentar — ele orienta o fluxo de circulação, cria um eixo visual e delimita psicologicamente a zona de estar. A sua disposição pode convidar à entrada ou sugerir privacidade, tudo sem uma única parede.

Trabalho frequentemente com estantes baixas que funcionam como divisórias permeáveis. Ao contrário de um armário alto que bloquearia completamente a visão, uma estante de metro e meio de altura permite preservar a sensação de amplitude característica do open space, ao mesmo tempo que define claramente onde termina a sala de jantar e começa o escritório doméstico. Esta é precisamente a subtileza que distingue um projeto de design de interiores mediano de um verdadeiramente excepcional.

Texturas e Materiais: A Linguagem Táctil do Espaço

Num open space, os materiais comunicam. Um pavimento em madeira de carvalho que, repentinamente, encontra um tapete em lã natural já está, silenciosamente, a dizer: “aqui começa outra zona”. Esta transição táctil é registada não apenas visualmente, mas sensorialmente — sentimos a mudança sob os nossos pés antes mesmo de a processar conscientemente.

O design de interiores contemporâneo explorou brilhantemente esta linguagem. Utilizo com frequência variações subtis de revestimentos para marcar territórios: porcelanato com efeito de betão na zona da cozinha, transição para madeira na sala de estar, e talvez um tapete de juta ou sisal para definir a área de refeições. Estas camadas criam profundidade e identidade sem comprometer a continuidade visual que torna o open space tão apelativo.

As texturas também desempenham um papel acústico fundamental. Tecidos, madeiras e elementos naturais absorvem som, evitando que o espaço amplo se transforme numa caixa de ressonância desconfortável — um problema técnico frequentemente negligenciado por quem se aventura no design de interiores sem formação adequada.

Open Space-A Arte de Criar Harmonia Sem Fronteiras no Design de Interiores
Open Space-A Arte de Criar Harmonia Sem Fronteiras no Design de Interiores

Iluminação: Esculpindo Atmosferas Sem Paredes

Se o mobiliário define territórios e os materiais os comunicam, a iluminação é o que lhes confere alma. Num open space, desenho sempre múltiplas camadas de luz, cada uma com propósito específico. A iluminação geral garante funcionalidade; as luminárias pendentes sobre a mesa de jantar criam intimidade; os focos direcionados valorizam obras de arte ou elementos arquitectónicos; e a luz indirecta suaviza transições.

Esta estratificação luminotécnica é essencial no design de interiores de espaços abertos. Permite-nos criar diferentes atmosferas consoante o momento do dia ou a actividade em curso. Ao anoitecer, podemos manter apenas a iluminação focal da zona de estar, deixando a cozinha numa penumbra discreta que a “desliga” visualmente do espaço de convívio. É arquitectura imaterial — definimos espaços com luz, não com tijolo.

A Coesão Como Princípio Fundamental

O grande risco num open space é a cacofonia visual. Quando não existe uma estratégia clara de design de interiores, o resultado pode ser um espaço confuso onde coexistem múltiplas linguagens estéticas que competem entre si. A minha abordagem privilegia sempre a coesão: uma paleta cromática harmoniosa que percorre todo o espaço, materiais que dialogam entre si, e um fio condutor estético que unifica sem uniformizar.

Esta sofisticação silenciosa — onde cada detalhe encontra o seu lugar sem gritar por atenção — é a assinatura de um open space verdadeiramente bem resolvido. É um ambiente que respira, que flui naturalmente, e onde as transições são tão subtis que quase não as notamos conscientemente, embora as sintamos intuitivamente.

O design de interiores aplicado a conceitos de espaço aberto é, em última análise, a arte de criar harmonia sem fronteiras visíveis — um exercício de equilíbrio onde técnica e sensibilidade se encontram para dar vida a ambientes sofisticados, funcionais e profundamente humanos.

Conceição Lopes – Atelier de Design de Interiores e Projetos 3D | Porto